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Rio, Brazil
Oi, eu sou um ilustre desconhecido da mídia náutica, não dei nenhuma volta ao mundo, o máximo que já fiz foi navegar umas 400 milhas entre o Rio e Ilha Bela e arredores num Veleiro pequeno. Minha intenção é facilitar o entendimento da navegação para todo aquele que suba à bordo de qualquer embarcação. Este é o primeiro passo antes de entrar em um Curso de Navegação antes de se submeter às provas da Capitania para Habilitação de Amador. Portanto, se você quer aprender algumas coisas sobre navegação de maneira simples, ou vez por outra cambar pra bombordo em alguma tentativa de poesia: Seja Bem Vindo à Bordo!!! elmoromao@gmail.com

10/03/2011

A importância do Binóculo na Noite!

Eu não vou falar aqui das características óticas e suas relações de tamanho, foco..etc..etc.. só uma introdução breve para entendimento do instrumento, pois o mais importante é o uso e vou relatar um fato verídico ocorrido numa travessia, onde o uso do binóculo teria acarretado em um stress menor, ou em nenhum stress...
O binóculo recomendado para navegação em pequenos barcos é o 7X50, ou seja: aumenta em 7 vezes a imagem e possui um campo de visão bem largo semelhante ao olho humano; diferentemente de uma luneta onde o alcance é grande mas o campo avistado é bem pequeno (bem estreito), o que significa que se você está avistando um barco a 3 milhas vais ver apenas o barco no campo de visão e não o mar em volta dele.
Um binóculo de 7X50 possui uma visão mais "larga" do ambiente visualizado do que um de 7X35, grosseiramente falando estou dizendo que se você estiver na ilha das Cagarras com uma lente de 35 vai ver somente o Arpoador, enquanto se tivesse uma lente de 50mm (milímetros) veria o Arpoador, Copacabana e Leme... muitas pessoas têm dificuldade em usar o binóculo e localizar um "alvo" imagine se você quer ver uma boia que está entre o Pão de Açucar e o forte em Niteroi (tipo a bóia preta) e está com uma luneta, você terá a vista de um monte de água o que vai dificultar a visualização do ponto no meio dos 2 morros pra achar a bóia, este é o diferencial.

A grande questão do "caso" é que em determinadas condições você DEVE usar o binóculo, vou dar o exemplo vivo do ocorrido: estávamos eu e mais 2 amigos-tripulantes (a recíproca também é verdadeira, tripulante-amigo) na travessia Rio-Angra, devíamos estar pra lá dos 24º, quase uns 40 quilômetros da costa, ou seja: num breu total; era noite e é importante deixar muito claro que saindo de perto da civilização não se enxerga NADA!!!!! TODAS as referências de terra desaparecem, a depender de quão longe esteja, nem os faróis são avistados... Nestas horas a atenção se concentra em 2 coisas:

1- Verificar o comportamento do barco em relação às ondas, que é possível ver por causa da ardentia, que é linda, (parece ano novo em Copacabana dentro da água) e foi exatamente por isto que fomos tão longe buscando um rumo mais seguro pras pancadas que o barco dava nas ondas
2- Verificar obstáculos, que normalmente são: redes de pesca e navios, normalmente se passa por cima das redes sem prejuízo para o pescador e para o barco, graças a Éolo, Netuno, Yemanjá e outras tríades de Divindades nunca me enrosquei em nehuma rede, mas navios são perigosos, se aproximam muitíssimo rápido e normalmente não nos veem, e é aí que mora o perigo...

Quando um navio está com toda máquina à vante a ardentia ajuda um pouco, poiso deslocamento de água faz com que os "bichos" fosforescentes (ou seria fluorescente??) nos mostrem o sentido, direção e a velocidade; outro ponto a ser observado, mas nem sempre fácil, é a verificação das luzes de navegação do navio, elas nos darão a direção do deslocamento do bruta-monte e aí você decide qual o melhor rumo pra evitar uma aproximação mais íntima com o "bicho". Lembrando que um rumo de colisão é: marcação constante e distância diminuindo, ou seja, ambos estão em deslocamento de modo tal que a colisão irá ocorrer mais à frente, é só uma questão de tempo!!! Na prática significa que: você observou o navio na tua bochecha de boreste e ele continua na tua bochecha de boreste sempre no mesmo ângulo de visão...  Quando estas condições são materializadas fica fácil determinar qual a alteração de rumo ou velocidade a ser feita, mas quando você avista um navio se deslocando devagar, a ardentia e a falta de visão das luzes de navegação podem induzir que o navio esteja parado... grande erro o meu... e aí você considerando que vais passar por um objeto flutuante parado pode te conduzir para uma armadilha assutadora, e foi o ocorrido, quando vimos percebemos que o navio se deslocava e bem na nossa direção, mas devagar (ufa!!!) deu tempo pra orçar um pouco mais e mais um pouco e passar vendo aquela parede de aço com seu barulho compassado do motor e gerador em baixa frequência que relembro bem nítido; nesta hora o conhecimento da angulação das velas em relação ao vento é fundamental pra fazer a manobra certa, or isso é fundamental sempre ter em mente pra qual lado você pode ir com teu barco sem fazer os panos panejarem de forma que te dê o máximo de ângulo de fuga...

O mais importante de tudo isso é o binóculo; se ao se aproximar do navio eu tivesse dado uma única espiada que fose eu saberia que ele estava em movimento e qual era sua direção e sentido, bastaria uma observação pra não nos deixar assuatados com a manobra rápida que deveria, e foi, feita.

A máxima de hoje é: nunca dispense uma olhada pelo binóculo para qualquer objeto cheio de luz que  esteja circulando perto (entenda-se: a menos de 3 milhas), isto poderá significar uma alteração de rumo pra tornar a viagem com adrenalidade desnecessária. Outro ponto que reforça esta máxima é: se não tem vento significa que sua capacidade de fuga ficará muitíssimo reduzida, portanto aumento seu raio de vigilância e a distância dos objetos que flutuam cheios de luz..... Espermos que ninguém nunca passe por este susto e que se for inevitávelque seja um susto... Abraço Grande!!!