Fico até "orgulhado" com o elogio... lendo assim de outras paginas até rio... como eu disse: Rio do verbo rir.... kkkk!!
Olá amigos,
Quando se fala em
velejar, qual prazer te satisfaz? Muito provavelmente a maioria de nós
vai imaginar um sonho normalmente distante, ou quase inatingível para
muitos velejadores - algo como um cruzeiro em alguma ilha paradisíaca,
uma volta ao mundo etc.
Às vezes, não nos
tocamos que, guardadas as devidas proporções, estar a bordo aqui, ali,
ou lá, é praticamente a mesma coisa. O barco é o mesmo, os equipamentos
idem... Em alguns casos, estar a bordo perto de casa pode até ter suas
vantagens.
Numa manhã ensolarada de
um dia desses, estava sentado na beira do cais do meu clube, observando
alguns veleiros serenamente adormecidos em suas poitas, quando, de um
deles - o Araken, sai o Elmo e dá uma baita espreguiçada. Ele pegou o
botinho e veio ao meu encontro, me dar bom dia:
- Elmo, o que você tá fazendo aí a essa hora? - perguntei.
- Ué? Dormindo a bordo. - ele retrucou...
Lembrei que o Elmo e sua
esposa costumam passar o final de semana a bordo com uma certa
frequência ali mesmo, na poita, em frente ao clube. Normalmente eles
saem para uma velejada pelas redondezas, mas sempre retornam à poita.
Lembrei, também, que eu mesmo já havia feito algumas poucas vezes, esse
"passeio". No meu caso, quase sempre pernoitava na minha poita quando
desejava sair muito cedo no dia seguinte para algum lugar. Mas esse não
era o objetivo do Elmo.
Bem, como achei uma
sacada legal esse aproveitamento que ele e sua esposa dão ao barco,
resolvi ouvir dele o que pensa sobre essa forma de curtir o barco. Segue
abaixo o sempre bem humorado e perspicaz texto do nosso amigo
cruzeirista:
"Velejar é uma das poucas artes que exige algumas doses de um pouco de tudo...
A maioria dos meus amigos
velejadores gostam mesmo é de uma boa dose de adrenalina e uma sede
medonha (é porque vez por outra todos de um barco e de outro gritam por
água). É incrível ver os
barcos se aproximarem (espera-se que joguem um pra o outro os embornais
repletos do tal líquido), cascos quase se tocam e o grito de água
aumenta, mas nada ocorre. Quer dizer: somente uma xingação, quase beirando ao xingamento, eclode no ar!
Às vezes tenho a plena certeza de que nenhum deles aprendeu os
ensinamentos do RIPEAM. Certamente não manobrariam assim tão perto uns
dos outros... Tenho certeza que, num veleiro, as idades diminuem.
Parecem adolescentes... tanto no riso (entenda que é com "S", pois se
fosse um "Z" a situação não estaria pra tantas risadas) quanto
nos impropérios!!!
Rio do verbo rir..
Velejar exige o riso como condição "sine qua non" da felicidade
intrínseca do velejo, posto que o importante (a menos que esteja em
regata) não é chegar, mas o processo, que poderá ou não também exigir um
rizo... a menos que o tempo esteja pra virar, ou a tua mulher esteja a
bordo e exija a horizontalidade da terra firme (que é vez por outra a
exigência da minha).
Velejar também exige uma certa dose de arte e outro tanto de ciência,
do contrário jamais chegaria a um porto qualquer... o abatimento,
consequência das correntes e ventos, te faria dar infinitas voltas no
planetinha até que o julgasse enorme, mas sem nunca se aperceber que
pequeno é você mesmo e seu barco nessa imensidão de água.
Velejar também exige um certa dose de proporção: a imensidão poderá
significar apenas 10 metros de água entre você e o cais... É por isso
que coloquei minha poita bem perto, pertinho do cais e isso tudo por
causa do clube que disponibiliza um botinho bem pequeno pra embarque,
com pouca borda livre e com uma afinidade medonha pra embarcar água
quando o vento sopra, mesmo que moderado.
Cruzeiro tem dessas proporções: não importa se a viagem entre a
cidade e o paraíso leve 12 horas (o paraíso mais perto é Ilha Grande) no
meio do nada, na visão do horizonte e a terra mais próxima, mas se você
estiver na cidade, o barco não pode ficar mais do que um passo do
madeirame cracorento do cais, culpa do botinho de fibra!
No sofrimento do botinho, vez por outra atraco meu barco atravessado
no cais. Antes consulto a tábua das marés pra saber se não vou encalhar,
e saber se poderemos tomar um banho farto na madrugada. Esta vida de
cruzeirista de cidade tem dessas coisas e desenvolvi esta técnica pra
convencer minha Imediata que tem verdadeiro horror ao botinho de fibra
em noite de "algum" vento.... coisas de cruzeirista de cidade!!! Rio de
novo, mas não rizo, porque o tal vento não é lá nada de força 3...
É assim que se forma um cruzeirista! Comece por um acampamento no
quintal, monte a barraca, mas tenha um chuveiro quente com secador de
cabelo à disposição; depois ponha a barraca no fundo do quintal, quase
rente ao muro, longe, muito longe de casa a ponto de exigir uma lanterna
no caminho do banheiro (é importante que a casa esteja de luz apagada);
depois vá pro barco e use minha poita (é pertinho do cais), mas se
esqueça da lanterna.... é assim que se forma umA cruzeirista: alguma
distância e uma lanterna, mas nunca use o botinho de fibra....
Cruzeirar exige alguns conhecimentos, um certo feeling sobre a mulher
amada, um conhecimento de Capitão e a decisão da Imediata!!!"
De fato, o Elmo costuma aproveitar bastante o barco dele, sem
necessariamente ter que preparar o barco com provisões, água,
combustível etc. Ainda que um estilo um tanto diferente dos anseios da
maioria dos velejadores, esse estilo do Elmo é bastante divertido e o
deixa tão ou mais em contato com o barco e com o mar que a maioria dos
demais velejadores.
É isso.
Até a próxima!!!